sábado, 31 de dezembro de 2016

Tendencias para 2017

Se 2016 foi um ano de confronto, 2017 deverá ser um ano de consolidação dos setores que venceram em 2016. Como os vitoriosos são essencialmente setores conservadores e temos uma ampla base histórica para nos servir de modelo, fazer projeções para 2017, talvez não seja um exercício fútil de futurologia.


  • 1%: devem se tornar mais influentes e mais ricos em 2017
  • Escravidão: precarização das relações de trabalho, incluindo diminuição de salários, precarização das relações de trabalho, terceirização, aumento dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais
  • Desemprego: mesmo com a redução do custo do trabalho, o desemprego deve aumentar, a novidade é que deverá atingir setores envolvidos em atividades mais complexas, que deverão ser assumidas cada vez mais por sistemas computacionais.
  • Inteligência Artificial: 2016 tivemos o surgimento de muitas tecnologias  experimentais, o seu uso deve se disseminar e se aproximar do uso cotidiano
  • Terrorismo: Trump inevitavelmente irá empreender uma nova Guerra ao Terror que deverá implicar em respostas
  • Militarização: Com o enfraquecimento do papel dos EUA como polícia do mundo, Europa, China, Japão entre outros vão investir na produção de armamentos e na modernização de seus exercitos
  • Desmonte: o sistema de proteção social no Brasil vai ser desmontado, em 2016 se criaram as condições políticas para uma redução orçamentária, em 2017 iremos sentir o impacto dessas mudanças na ponta do sistema
  • Anti-intelectualismo: a extinção do MCTI, o corte dos recursos orçamentários para 2017, a reforma do ensino médio, com a desobrigação de que as escolas ministram aulas sobre ciência, a precarização da carreira de professor, o desmonte das agencias reguladoras e ambientais vão tornar a Ciência ainda menos impactante na sociedade brasileira. Na mesma linha vamos ter a consolidação do poder das igrejas e do fundamentalismo religioso e de sua crescente influência na educação.
  • Preconceito: a vitoria de Trump e o avanço do fundamentalismo deverão estimular o recrudescimento da homofobia, racismo e da misoginia.
  • Epidemias: o desmonte do sistema básico de atendimento a saúde e das agencias de monitoramento ambiental aliadas com o aquecimento global deverão facilitar o surgimento de epidemias causadas por mosquitos e também como consequência do aumento da poluição. 
  • Privatização: o tamanho do Estado vai diminuir através de privatizações, várias estão acontecendo e muitas outras deverão avançar devido a crise nos estados e municípios. 
  • Estado de Excessão: o avanço do processo da Lava Jato ao STF vai enfraquecer ainda mais o Estado de Direito no Brasil isso sem contar com a eventual revolta das camadas mais pobres contra o desmonte. A PEC 55 feriu de morte a Constituição de 1988 tornando letra morta o espírito da Carta. Some-se a isso a dificuldade de garantir a normalidade democrática em um quadro onde a cúpula do poder deveria ser processada e punida.    
  • Previdência: Mesmo admitindo que muitos aspectos da reforma proposta sejam fragilizados, a aprovação da PEC55 e a depressão impõe uma reforma da previdência que dilate os prazos de aposentadoria. Mas a questão é que com a dilatação do prazo a previdência publica será inútil para a vasta maioria dos trabalhadores, os pobres por que estarão mortos ou desempregados aos 65, as classes medias com formação mais longa não vão ter interesse em contribuir para benefícios que não vão usufruir. Isso aliado ao desemprego vai reduzir sensivelmente as receitas da previdência. 
  • Fundamentalismo: a teologia da prosperidade é elemento ideológico chave nas periferias, onde residem parte substancial dos votos. O sistema é ainda alimentado por um poderoso esquema de lavagem de recursos de atividades ilícitas, ainda muito mal compreendido. Essa teologia tem como sabemos uma visão conservadora nos costumes e liberal na economia. A esquerda rechaçada pelas classes médias, se quiser voltar ao poder terá de estabelecer alianças ainda mais fortes com esse setores. Isso pode ser facilitado pela dinâmica própria do avanço do projeto da direita que em tese deverá privilegiar o 1%. A forma como os interesses dos mais pobres e dos mais ricos será acomodado no Rio e em São Paulo, será um indicativo do que está por vir. 
  • Sociedade Civil: com  uma classe empresarial com baixa capacidade de inovar, mal controlada pelo estado, prestando serviços que são caros, ineficientes e que não raro arriscam vidas humanas e ecosistemas inteiros (Samarco é um exemplo claro, mas existem outros tantos) e um estado que abre mão de prestar os serviços que estão sob sua alçada e que se recusa a fiscalizar minimamente o setor privado. Sobram poucas alternativas fora da Sociedade Civil para a construção de sistemas que consigam minimamente manter escolas, hospitais, pesquisa com ao menos um nível basal de funcionamento.  As igrejas evangélicos são um exemplo de sistema como esse, ainda que atendam fundamentalmente os interesses de enriquecimento de sua cupula, obviamente são capazes de promover benefícios para a sua comunidade. 
  • Base Aliada: A base aliada de Temer é composta de três grandes setores: Centrão, PMDB e PSDB e satélites. Ainda que existam diferenças nas composições, existem muito mais consonâncias do que dissonâncias. A questão fundamental tem sido dividir o bolo, até o momento onde não houve nenhuma atitude na direção de controlar o deficit publico no momento em que vivemos, o que estamos presenciando é essencialmente um deslocamento dos investimentos em areas sobre a influência do Estado para áreas de influência política direta. Substituição de cargos publicos por CC, pagamento de emendas, publicidade publica. A única e notável excessão são as carreiras ligadas a justiça e ao fisco, que foram sobejamente apoiadas financeiramente por aumentos criminosos em um momento de crise. Em 2017 com a esquerda ainda atordoada a disputa política vai se dar essencialmente na base de Temer, o que já estamos assistindo e vai ganhar tons mais fortes na disputa pela Camara. As esquerdas vão passar a desempenhar um papel meramente moderador. 
  • Pudim: A turma do Pudim vai seguir forte, Eunicio deve ser o presidente do Senado, Renan vai presidir a comissão de Constituição e Justiça, Temer e Padilha devem seguir firmes e fortes no Executivo e Jucá segue na liderança do Governo no Senado. Geddel está fora ao menos  por enquanto, mas pode voltar. Com eles em postos chaves a corrupção vai atingir níveis inauditos. O presente as Teles de 109 Bilhões é só uma amostra da voracidade. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O que Bombou em 2016

O ano de 2016 não foi um ano usual, eis a minha lista de coisas que realmente fizeram esse ano ser especial.


  • Casal: Aécio e Moro
  • Teoria Pseudo-Científica: Terra-chata
  • Piada sem graça: Pontual imitando Chewbaca (http://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2016/12/27/pontual-imita-chewbacca-ao-comentar-morte-de-carrie-fisher-e-e-criticado.htm?cmpid=tw-uolnot)
  • Pseudo movimento popular: MBL
  • Tweet mais perigoso de todos os tempos: Trump reiniciando a corrida nuclear http://www.nytimes.com/interactive/2016/12/22/world/americas/trump-nuclear-tweet.html
  • Separação mais espetaculosa: Angelina Jolie e Brad Pitt
  • Videoclip que se pretendia engraçado mas é apenas chato: Clarice Falcão: Eu Escolhi Você http://claricefalcao.com.br/assista-ao-videoclipe-de-eu-escolhi-voce/
  • Espetáculo mais degradante: Impeachment da Dilma na Câmara
  • Golpe mais evidente na Constituição Brasileira: Lewandovski cassando Dilma e mantendo seus direitos políticos
  • Declaração mais pró-PSDB de Gilmar Mendes: "depois, esses falsos heróis vão encher o cemitério", disse isso após a Lava Jato investigar supostas falcatruas realizadas pelo PSDB. 
  • Melhor Sósia de Bento Carneiro: Carmem Lucia
  • Desconhecimento de Geografia: Bandnews se referindo aos 15 estados do Nordeste
  • Elemento gramatical: mesóclise
  • Cor: verde bangu
  • Surpresa positiva: Abertura das Olimpiadas
  • Maior Humilhação: CNPq e Finep se tornarem orgãos de terceiro escalão no MCTIC
  • Boneco Inflável Gigante: Pato da Fiesp
  • Vitória inútil da diplomacia: Acordo do Clima em Paris (em 2016 ele foi tornado letra morta)
  • Dia mais longo do ano: 8/11/2016-Eleição Americana
  • Trilha sonora: música celestial dos dois buracos negros colidindo captados pelo LIGO
  • Setor da Economia: Produtor de bombas de efeito moral
  • Sentido: Direita
  • Tintura para cabelo: Laranja
  • Foto sem noção: Foto de Temer, Marcela, Papai Noel muito fake  e as criancinhas emburradas

  • Premio Tweet Direitos Humanos: "Deixa os gay ser gay, deixa os gordo comer, deixa as mina dar, deixa eu fazer meus filhos, DEIXA AS PESSOAS" de Mr. Catra. 
  • Justificativa: "vítima de infidelidade" proferida pelo delegado responsável pela investigação do assassinato na Estação Dom Pedro de um ambulante a chutes e socos.   
  • Educador: Marcelo Frota
  • Ministro mais Descaradamente Corrupto: Geddel Vieira Lima
  • Bafo na Nuca do Temer: Meirelles ao voltar da Capital do Império no meio do recesso de final de ano para exigir que Temer vetasse a lei de anistia aos estados
  • Nona mais lembrada: Mãe do Sartori
  • Juiz que mais atentou contra o Estado de Direito Brasileiro: Gilmar Mendes
  • Empresa: Odebrecht 
  • Apelido mais autoexplicativo da lista da Odebrecht: "Boca Mole"
  • Entretenimento mais perigoso do ano: Pokemon Go
  • Prisão mais Confortável: Mansão onde Sergio Machado cumpre sua prisão domiciliar http://g1.globo.com/ceara/noticia/2016/06/sergio-machado-cumpre-pena-em-mansao-com-piscina-e-quadra-de-tenis.html
  • Conversa Gravada e Vazada: Sergio Machado e Jucá, explicitando o golpe com todas as letras
  • Jornalista que passou mais tempo na frente das cameras: Renata Lo Prete
  • Meme:


  • Depoimento mais discreto: Aécio Neves
  • Prisão: Eduardo Cunha
  • Numero: 55
  • Termo Jurídico: sob vara
  • Nome de Operação da Lava Jato: Calicute http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38016618
  • Estado mais quebrado: Rio de Janeiro
  • Powerpoint: 
  • Melhor Gráfico: 
  • Peça do Vestuário: Camisa Polo Ralph Lauren
  • Coreografia: 


sábado, 15 de outubro de 2016

A discussão sobre a PEC 241 nos coloca uma questão fundamental por que queremos crescer? A maior parte das famílias brasileiras trabalha para melhorar suas condições de vida, mas acredito que substancialmente para oportunizar aos filhos uma boa educação e ter acesso a tratamento médico se alguém ficar doente. Quão estranho seria se ao aumentar sua renda uma família optasse por não tratar de alguma doença ou não prover uma educação aos filhos.

A discussão da PEC 241 tem sido castigada por uma equivocada analogia com o orçamento doméstico ou de alguma empresa. Essa questão é amplamente discutida nos tratados clássicos de economia, Keynes dedica ampla e complexa análise a discutir essa questão. Mas no Brasil essa análise é amplamente ignorada e os detratores da PEC são tratados como debéis mentais pela midia majoritariamente pró ajuste fiscal.

Por que crescer?

A grande diferença entre o orçamento de um país e o de uma empresa é que o governo possui acesso a máquina de produzir moeda. Isso torna a analogia perfeitamente equivocada. Isso obviamente não significa que seja uma boa idéia para o governo imprimir dinheiro sem que exista uma contraparte em termos de produção. O problema é uma correta aferição da relação ótima entre endividamento, inflação e crescimento. E mesmo isso não basta, é preciso ainda levar em conta das bases materiais desse crescimento.

O crescimento que o Brasil obteve ao longo dos últimos anos foi basicamente consequência de um aumento de consumo, estimulado por políticas públicas que favoreceram setores da nossa economia em troca da manutenção de empregos. Infelizmente a manutenção dos empregos implicou em uma redução do investimento em uma base industrial que seja de fato competitiva. O custo exorbitante dessa abordagem e o seu fracasso em termos de eficiência é um dos pecados que atravanca o crescimento de nossa economia. A isso soma-se o fato que nossa economia passou a depender excessivamente de comodities cujo preço internacional segue sendo muito menor do que seria necessário para manter um orçamento balanceado.

A escolha da PEC é basicamente sacrificar investimentos e o nosso precário sistema de bem estar social em uma política de austeridade visando essencialmente diminuir a dívida pública para que os juros em tese sejam reduzidos a níveis civilizados. Obviamente não é apenas isso, a estrategia inclui um generoso plano de redução do custo de mão de obra, basicamente atrasando aposentadorias e estimulando ainda mais o crescimento do desemprego entre os jovens. Sem contar com o plano de reduzir o acesso à educação ou ainda de voltar a formação dos jovens para atividades mal remuneradas.

Os setores que apoiam essas medidas estão fortemente alicerçados em alguns pilares: dominam ao menos 350 deputados, tem acesso facilitado aos principais meios de comunicação e controlam uma parte substancial do sistema jurídico. Esses setores ainda contam com apoio substantivo de agentes externos, interessados em abocanhar parte do pré-sal e outras benesses, como o nosso sistema de educação.

A verdade é que essa decisão é grave, dificilmente poderá ser completamente revertida, mas é imprescindível que sejam apresentadas alternativas. A mais obvia seria considerar o crescimento da economia. O mais indicado seria um índice que distribuísse o aumento do PIB entre redução da dívida e investimento e levasse em conta um período maior do que um ano, para minimizar a grande flutuação do crescimento do PIB anual. Com isso teríamos um aumento de previsibilidade do sistema, sem necessariamente onerar em demasia as políticas públicas e sem implodir as condições de crescimento no médio prazo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

 Uma utopia para combater a PEC 241


A PEC 241 em linhas gerais se propõe a ser uma medida de austeridade fiscal por fixar um limite ao crescimento do orçamento do governo federal a inflação no período e isso em um período de 20 anos. A discussão dessa medida obviamente foi caracterizada pelo tom apocaliptico de ambos os lados. O governo se refere a hecatombe econômica se a medida não for aprovada, a oposição se refere a PEC da Morte.

Infelizmente crises não são resolvidas com retórica. E isso poderíamos ter aprendido com Lula e sua imagem da marolinha durante a crise de 2008, que foi atacada com retórica e uma expansão do gasto público que acabou em grande parte nos trazendo aonde estamos. Temer segue a mesma linha, enquanto propõe cortar as despesas em algum momento indefinido expande os gastos públicos, precisamente quando mais necessitamos de austeridade.

Mas avançamos desde 2014, por exemplo hoje aceitamos universalmente que existe uma crise econômica que demanda por medidas estruturais. A disputa hoje é apenas em termos de quais medidas são adequadas. O campo da esquerda, infelizmente pouco tem contribuído para a proposição de soluções.

Um componente relevante da crise é que a operação Lava Jato paralisou uma parte substancial da economia brasileira. Odebrecht, OAS, entre tantas outras eram responsáveis por partes substanciais do PIB brasileiro. Com a prisão desses líderes e a crise na Petrobrás e no setor de comodities, a economia brasileira encolheu, a capacidade de recolher impostos diminuiu ao mesmo tempo em que os gastos seguiram sendo expandidos: juros mais altos causando um aumento do custo de girar a dívida, generosas alienações fiscais para setores decadentes da economia, gastos com grandes eventos esportivos, programas sociais, sistema de previdência caro e injusto, etc.

A PEC não é solução para essa situação, mesmo por que ela, por si só, não resolve os problemas agudos que enfrentamos, pois não limita os gastos enquanto estivermos em recessão. Pois o crescimento do orçamento devido a inflação segue superando a inflação. Por isso a PEC é muito mais uma necessidade política, do que uma solução econômica.

O empresariado brasileiro foi um elemento essencial para o impechment de Dilma, atuou patrocinando na imprensa um ataque permanente ao governo e ao PT, custeou manifestações até mesmo alimentou manifestantes. Sem contar como apoio a eleição de congressistas com claro perfil conservador. Nada mais natural que a fatura seja cobrada.

Em um cenário de crescimento ainda que medíocre da economia a PEC vai implicar em uma drenagem dos recursos federais para pagar a dívida pública, enquanto gera uma situação inconsistente na distribuição dos recursos públicos. O custo da previdência seguirá crescendo, salários de servidores se seguirem a inflação vão seguir crescendo. A solução será diminuir investimentos, mudar o modelo de saúde pública, acabar com a expansão da educação, etc. Seria muita inocência imaginar que os recursos para a saúde serão privilegiados em relação ao salário dos servidores públicos da justiça. Ou que o governo vai priorizar investimentos ao invés de investir em propaganda para acalmar os gigantes da mídia.

O Brasil que emergirá da PEC será bastante diferente do que temos hoje, a saúde deixará de ser universal. O sistema público conseguirá dar conta apenas dos aspectos mais básicos e os casos de maior complexidade deverão ser custeados pelos usuários. As pessoas não tem muita clareza do que isso significa, mas mesmo o tratamento de doenças como câncer que  é muito caro e hoje depende do SUS essencialmente,  vai se tornar artigo de luxo, como carros importados e apartamentos na Vieira Souto: privilégio para muito poucos. A Educação pública que é ainda hoje essencial para a formação da mão de obra que realmente tem condições de fazer crescer a economia, vai ser severamente
afetada e deixará de ser o principal mecanismo de acenção social e de redução meritocrática das desigualdades sociais. A pesquisa científica que foi o setor mais afetado pelos cortes, tendo inclusive perdido seu ministério é outra vítima óbvia nesse paraíso liberal que estamos cavando com nossos próprios pés.

Com a PEC a previdência deverá ser reformada e uma idade mínima para aposentadoria deverá ser mandatória, e o que é mais grave aposentadoria integral poderá ser possível em algumas propostas somente a partir dos 70 anos. Trabalhar até os 70 anos é privilégio para poucos, pois depende de manter saúde suficiente para tanto e mais raro ainda: um empregador interessado em manter o sujeito empregado. Condições muito raras para a maior parte da população mais pobre. Nada disso é dramático comparado com o que deve acontecer, as pessoas cientes da inutilidade de contribuir para a previdência vão preferir trabalhos não formais, tercerização, criação de pequenas empresas, etc o que irá agravar ainda mais a situação da previdência que vai perder a contribuição dos mais jovens.

Desenhar cenários apocalípticos infelizmente não é alternativa, pois ambos os campos são capazes de fazer isso com igual capacidade mítica. Às esquerdas resta trazer a luta para seu campo favorito: a utopia. A tradição do campo das esquerdas foi sempre o da crítica ao sistema de produção
capitalista acompanhada com a promessa de um futuro radiante. Nunca necessitamos tanto de luz ao final desse túnel.

Pessoalmente acho que a solução passa por um choque de Educação no Brasil, garantir o acesso de educação através do uso de EAD e de outras estratégias de massificação para minimizar custos e oportunizar uma formação mais qualificada aos nossos jovens. Não é possível seguir imaginando  que é necessário colocar um docente ministrando aulas monocórdicas durante 4 horas diárias para educar as pessoas no século XXI. A expansão do sistema de energias limpas como a solar, poderia trazer um gigantesco impacto, na eficiência de nossa economia e poderia alavancar nosso crescimento nesse momento de crise.  A industria cultural e a produção de produtos culturais como jogos, aplicativos educacionais, poderia ser um vetor importante para o desenvolvimento.

Outra área que poderia se desenvolver é permitir o desenvolvimento de uma industria flexível que personalize produtos em pequena escala e garanta o desenvolvimento de soluções e produtos que atendam a demanda dos consumidores. Isso demandaria um incentivo a produção em larga escala de impressoras 3D, desenvolvimento de computadores de baixo custo e o estímulo a integração de sistemas embarcados para aplicação em áreas como a saúde, a automatização das casas, etc.

O discurso liberal brasileiro assume que somente pela redução do custo da mão de obra, seja pela redução de salários ou pela diminuição dos custos indiretos do trabalho a economia brasileira será competitiva. Trata-se de ledo engano, no século XXI não haverá mais espaços para industrias que demandem o uso intensivo de mão de obra pouco qualificada, essas vagas serão ocupadas por máquinas com custos muito mais competitivos, e isso vai acontecer muito antes do 2036, data onde a PEC 241 perderá sua validade. 

A esquerda brasileira tem 2 meses para se reorganizar e elaborar um discurso que lhe permita se  aliar com setores progressistas do campo liberal para barrar ao menos os aspectos mais sórdidos da PEC 241. Muitos dirão que isso é por demais utópico. Mas em retrospecto, o governo Lula foi essencialmente uma aliança com essa composição. O grande erro de cálculo político de Lula, foi compor uma chapa com o PMDB para viabilizar o governo Dilma. A aliança com os setores mais sombrios do capitalismo representado pelo PMDB terminou por se mostrar insustentável. A estratégia do PSOL de se manter isolado do sistema produtivo brasileiro, não consegue construir composições
majoritárias. Uma aliança social democrata poderia garantir ao menos o que nos falta para atingirmos o 1/3 para barrar os retrocessos mais graves. 

domingo, 18 de setembro de 2016


O mito dos Hubs






A famosa imagem de Dalton Dallagnol lhe permitiu atingir os píncaros da gloria nas redes sociais nacionais. Seja por sua capacidade de síntese, seja por sua pobreza estilística. Obviamente a apresentação possui ainda outros aspectos interessantes: por exemplo o vértice comum. Uma espécie de auto-referencia ao próprio esquema.  

A idéia de descrever uma situação complexa através de explicações simples é muito mais uma constância na história do que uma novidade. Presente na tradicional expressão "bode expiatório" e que pode ser aplicado a um sem número de situações históricas, onde personagens ou classes sociais, ou grupos religiosos foram usados como explicação definitiva para a causa de uma situação política. Obviamente Lula e o PT tem muita participação nessa imagem de alocar a figura humana Lula muito mais poder do que de fato lhe coube, mas não deixa de ser chocante que um procurador da republica, em tese membro da elite intelectual brasileira, possa acreditar que um esquema tão simplista como essa possa dar conta da realidade complexa que cabe a Lava Jato desvendar. 

Mais impressionate ainda se levarmos em conta que existe vasto material vazado que indica que esse sistema, é uma evolução de sistemas que estão em funcionamento desde muito. Mas principalmente que envolvem certamente figuras diversas de muitos partidos de todas as ideologias e espalhados pelo Brasil inteiro. Sendo o PT parte importante mas dificilmente a maior e nem mesmo a mais influente nesse esquema. 

Delcídio Amaral por exemplo deixa claro que o Mensalão foi instrumental para que Lula distribuísse cargos da Petrobrás entre membros dos partidos da base, sem isso teria sido cassaado. Some-se a isso estranhas coincidências envolvendo o ministro do supremo Barbosa e temos um interessante veio de investigação, que muito nos ajudaria a entender qual a relação entre a corte suprema e manutenção dos esquemas de corrupção brasileiros. Mas, além disso  vários empresários revelam que contribuíram  para esquemas de corrupção envolvendo PSDB, PMDB entre outros. 

Ou seja existem poucas dúvidas que esse esquema é multicentrico, esparso, generalizado e que inclui além do empresariado, judiciário e a mídia. Ou seja que esse grafo possui muitos outros hubs além de Lula. Na Teoria das Redes Complexas papel preponderante é atribuído aos hubs, vértices que possuem muitas ligações. Eu denomino isso do mito dos hubs, apesar de que em muitos casos verifica-se seu papel preponderante, as vezes seu papel é super-estimado. 

No grafo de Dallagnol, a conclusão é óbvia ao deletarmos Lula do sistema voltaríamos a era dourada, onde vivíamos sem corrupção. A essa conclusão superlativa soma-se uma acusação apoiada em evidências frágeis, onde Lula aparentemente se beneficiou de migalhas, incompatíveis com o papel de "capo di tutti capi". Mas nada disso importa muito, pois a operação Lava  Jato é uma operação juridico-midiática. E nesse caso em específico, o show de Dallagnol, tinha poucos objetivos jurídicos seu objetivo principal é fornecer uma narrativa política para a prisão de Lula e mais importante que isso para seguir com o plano delineado por Jucá: delimitar a Lava Jato. Some-se a isso a idéia de que o PT incorpora no Brasil o apavorante espectro do comunismo. Atualmente um espectro de fato, pois não existem quaisquer evidências de que o PT, os russos, a Venezuela queiram realizar uma revolução comunista no Brasil. Mas obviamente esse discurso atinge setores da sociedade que temem e com muita razão, que os setores da sociedade que são subjugados, avancem e ocupem papeis menos periféricos na sociedade brasileira. 

O real problema de toda essa história são as suas consequências, ou seja como colocar o gênio de volta a garrafa. Como convencer os setores que avançaram na era Lula que devem se sujeitar a trabalhar mais, por mais tempo, com salários menores, seguir pagando impostos e ver solapadas as políticas públicas em saúde e educação?. Como colocar a economia brasileira a crescer sem avançar no processo de inclusão? Como seguir alocando parte substancial do PIB aos rentistas se isso implica no desmonte do sistema que lhe garante os recursos?

Nada disso angustia a equipe de Moro, enquanto segue com sua cruzada contra a corrupção, ele visita a Metrópole para bovinamente receber os parabéns pelos grandes serviços que presta aos interesses americanos. 









sábado, 3 de setembro de 2016

Pelo prazer de colocá-los no Lattes


"Madamina, il catalogo è questo
delle belle che amò il padron mio;
un catalogo egli è che ho fatt’io.
osservate, leggete con me.
In Italia seicento e quaranta,
in Almagna duecento e trentuna,
cento in Francia, in Turchia novantuna,
ma in Ispagna son già mille e tre!
V’han fra queste contadine,
cameriere e cittadine,
v’han contesse, baronesse,
marchesane, principesse,
e v’han donne d’ogni grado,
d’ogni forma, d’ogni età.
Nella bionda egli ha l’usanza
di lodar la gentilezza,
nella bruna la costanza,
nella bianca la dolcezza.
Vuol d’inverno la grassotta,
vuol d’estate la magrotta;
è la grande maestosa,
la piccina è ognor vezzosa...
Delle vecchie fa conquista
pel piacer di porle in lista:
sua passion predominante
è la giovin principiante.
Non si picca se sia ricca,
se sia brutta, se sia bella;
purché porti la gonnella,
voi sapete quel che fa! "
Don Giovanni: Ato I - Cena V, Mozart

Don Giovanni talvez seja uma das mais completas obras de arte da humanidade, pois reúne tantos elementos harmonizados, da crítica social ao terror, passando pela comédia, pelo romance e terminando na tragédia e esse enredo extravagante é costurado com música divina. 

Após ter ouvido a palestra do Gilson Volpato no encerramento do Congresso de Iniciação Científica de Botucatu e sua visão sobre pesquisadores e cientistas, e sobre o papel mais elevado de que os cientistas, por ele definido como sendo os indivíduos empenhados na busca pelos modelos mais profundos e impactantes para desvendar a natureza. Não é possível deixar de se enlevar pelas música dessas altas esferas.

Por outro lado, contraponho a minha trajetória pelo mundo da ciência, que muito menos nobre, talvez mereça alguma descrição. Ao longo de minha vida, sempre estive ligado a ciência, quando pequeno preferia ganhar de presente laboratórios de química do que carrinhos, sempre preferi livros a roupas. Após as inevitáveis incertezas do ensino médio, uma vez na  universidade nunca mais tive qualquer dúvida de que trabalharia como cientista.

Ao longo dos anos me envolvi de forma compulsiva em todos os tipos de empreitadas científicas: iniciação científica, mestrado, doutorado, professor, orientador, burocrata, revisor, e sabe-se lá mais o quê. Também percorri de forma irresponsável uma infinidade de áreas do conhecimento, física, matemática, computação, medicina, ecologia, genética, ensino, história da ciência. E publiquei em várias dessas áreas e com vários colaboradores, amigos, inimigos, minha mulher, desconhecidos e com quem mais se dispusesse a tanto. Nunca fui seletivo, trabalhei com problemas bonitos, feios, interessantes, inúteis, úteis, impactantes e irrelevantes.

E ao longo desses anos todos, fui desenvolvendo uma estranha fixação pelas diferentes partes do processo. Por exemplo a arte de representar uma idéia em um gráfico, isso envolve uma série de pequenas decisões, o tamanho dos tipos, forma e cor das linhas, sem esquecer do essencial, a escolha do que representar. Passando pela formatação do texto, a escritura da carta de apresentação de um artigo, as batalhas com os revisores, a orientação dos alunos para que eles produzam suas próprias idéias. Mas mesmo coisas menos nobres, como organizar eventos, revisar o trabalho de outros, fui aprendendo a usufruir. Obviamente existem coisas que seguem sendo  desagradáveis como a prestação de contas, mas felizmente a memória seletiva nos ajuda a esquecer.

Os artigos que publiquei formam uma estrutura na minha existência, são eles que organizam na minha memória onde estava e o que fazia em determinado momento, muito mais do que as alegrias e tristezas da nossa existência humana. Os momentos críticos dos artigos, quando as idéias se cristalizam e se organizam são lembrados com riqueza extravagante de detalhes.

Os artigos tem uma vida própria alguns são esquecidos, outros lembrados com alguma frequência. Qualquer citação em algum lugar recôndido do cosmos, nos provê de alguns breves instantes de alegria. São como apostas que fazemos para atingir a eternidade, para fixar em algum canto do conhecimento uma marca indelével.

Mas uma vida é tempo curto demais para julgar a relevância de uma idéia, se a transitoriedade é característica de todo o conhecimento humano, a aferição precisa da relevância é um exercício de futilidade. Outra vantagem é que na ciência, ainda que a idade seja cruel com a nossa capacidade de abandonar idéias consolidadas, os mais experientes são  indispensáveis para contextualizar o que está sendo produzido e atuam como guias para que as novas idéias possam criar raízes e permitir que o novo suplante o velho e não sigamos reinventando o passado. Como é doce nossa vingança, quando um orientando  nos conta uma novidade e nos reconhecemos nela uma idéia que nos foi apresentada nos verdes anos e conseguimos reconstruir na nossa memória a trajetória que esse meme percorreu, seus anos dourados, sua decadência e sua redescoberta em um contexto totalmente novo. É como a chuva na caatinga, em questão de horas a aridez é substituída por um campo verdejante. 

As conquistas de Don Giovanni são meticulosamente anotadas por Leporello, o cavalariço do nosso herói. A ária que cito na abertura é cantada por ele (para se convencer que óperas podem ser fantásticas assista essa ária em https://www.youtube.com/watch?v=Gp11bweiOA8, a ária inicia aos 27 minutos). E com alguma licença poética, podemos reconhecer nesses versos uma espécie de Currículo Lattes, que com muito mais beleza enumera e classifica as grandes conquista do mestre, só que nesse caso os trabalhos científicos são substituídos por mulheres, que tão industriosamente foram seduzidas. 


A ciência é um evento social, sofre de muitas das vicissitudes de outras áreas menos espiritualizadas de atividade humana. Mas tem suas particularidades, os cientistas mesmo os mais enfadonhos são figuras extravagantes, todos eles vivem em algum lugar das bordas do fenômeno humano, seja pela sua vaidade em coisas que para o resto da humanidade são irrelevantes, seja pelos sacrifícios que impõe a si mesmos, seus alunos e familiares para atingir objetivos que podem mudar o mundo ou serem completamente esquecidos. E como em qualquer profissão temos as piadas, ah o humor da ciência! Ácido, sarcástico, profundo e revelador, especialmente quando é compartilhado em algum lugar exótico acompanhado de cerveja gelada em profusão e alguns acepipes. 


Don Giovanni é no final uma tragédia, as peripécias do personagem principal não atraem nada mais do que dor para si e para muitos dos que lhe acompanham. As infidelidades de Don Giovanni são a causa de sua desgraça, felizmente para mim no mundo científico ainda que a inconstância, a frivolidade não sejam muito bem vistas, seguem possuindo um papel social. Ainda que desdenhados, aqueles que como eu, inadvertidamente buscam saber pouco sobre muitas coisas, são ouvidos em casos de necessidade, por exemplo quando alguém precisa explicar a um biólogo uma idéia computacional, ou biologia a um cientista da computação.

Mas a questão fundamental que todos os que querem se embrenhar na ciência devem responder, segue sendo a da minha professora Victória. Quando ela nos condenava a longas horas de desespero na companhia de suas provas, perguntava "Estão se divertindo? Porque a partir de agora só piora. Se não estão se divertindo vão fazer outra coisa, pois a diversão é a única vantagem de ser cientista." Ou seja independente de suas escolhas, se você quiser perseguir uma idéia revolucionária, produzir artigos contendo pequenas evoluções, ser um grande especialista ou generalista, trate de se divertir, pois senão não vale a pena. Fazer ciência sem paixão é tarefa impossível.  

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ideia para classificar classes com uma comunidade

O plano eh o seguinte:

- normalizar os dados
- usar um algoritmo para clusterizar os dados
- determinar uma esfera de raio ro em torno da mediana que caracteriza
os grupos
- definir uma metrica de sucesso. Esta metrica f(ro) deve ser tal que
f(ro=0)=0
f(ro->infinity)=1